sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O dia em que parti.


Nada é mais doloroso que a primeira partida né? Mudei-me para longe, mas nem tão distante assim. O coração duplica ou triplica a distância e multiplica por mil o amor e a saudade. Ainda mais fortalecida e ciente dos amores que deixei, das ruas que percorri milhares de vezes com os meus pés cansados, reconheço que ultrapassa qualquer ciência que já tomei, que não há amor que supere a vontade de estar com mainha neste momento. Arrisco dizer que sinto falta até dos gritos, das dúvidas bobas, dos erros de português inesquecíveis e únicos. E dói. Dói do começo ao fim, e em cada mínimo canto, sentir saudade. Não quero roupas lavadas, passadas, quarto cheiroso, comida nas mãos. Nada disso. Quero um abraço forte, apenas. Quero minha avó reclamando que eu não saio de casa e que preciso vê-la mais. Quero colo.

Quero chegar de surpresa, e dar um susto que a faça pular, e no momento seguinte, morrer de rir. Quero tanto (mas tanto), ouvir mamãe falando sozinha dos problemas todos e trocando as letras de música como se estivesse compondo. Desejo já ouvir sermões e colocar as mãos sobre sua boca na tentativa de impedi-la de me repreender. Pedir que ela fale inglês e despertar sorrisos ao ouvir aberrações.
Naquele dia em que parti, olhava, encostada na janela do carro do meu pai, embaixo de cada árvore que passava, minha mãe me contando histórias e me fazendo dormir. Em cada rosto, era ela. Em cada velhinha linda e fofa, minha avó. Em cada criancinha, minha irmã. Em cada homem inteligente e bem vestido, meu pai. Senti saudades já no abraço de despedida.
Aprendi mil coisas na nova casa, e a falta me tomava com vontade depois do leite com nescal, na mesa... Lendo um livro, abaixava as páginas para lembrar-me de tudo de bom que vivi.

Dos amigos que deixei, dos amores que recusei, dos que vivi... Lembrei de mainha, como se jamais houvesse esquecido (e está é a verdade). Mãe, hoje nem é seu dia. Não é seu aniversário, você não está completando nada. Mas hoje, continua sendo especial para mim. De aparência, temos só mais um dia longe... e digo como se meu coração não gritasse, esperneasse e fizesse pirraça como criança que sou e desprotegida que estou. Sem tuas palavras, sou insegura, incompleta, jogada ao mundo. De tanto proteger-me, já não vivo sem você.

3 comentários:

  1. que lindo, vlh *-* fico até sem saber o que dizer diante de tantas palavras e tanta emoção jogada no texto (: tá lindo aqui, minha Clá. te amo ♥ dl.

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  2. Que lindo texto!
    Mto sensível!
    Adorei!!
    Ahh também fiz Biomedicina!!

    bjo
    http://feedbackpositivoagora.blogspot.com/

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  3. Que lindo o texto, amei amiga!
    cheirinho :*

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