quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Agora eu só quero me preocupar com uma nova disposição dos móveis na casa enquanto ponho as roupas sujas na máquina de lavar.





Não é saudade (…)
 - mas é sem dúvida uma sensação muito clara
 de que a vida escorre talvez rápida demais e,
 a cada momento, tudo se perde.
(Caio Fernando Abreu)

Eu sei, que eu sempre adotei os subjetivismos pra dizer o que sinto e que está nas entrelinhas. Mas, hoje eu quero falar, sem tantos rodeios, o quanto estou me sentindo bem. Existe um ditado que fala que depois da tempestade sempre vem a calmaria e eu acreditei e esperei inconscientemente por isso. E não é que eu estava certa em esperar? Quase três semanas depois da demolição das minhas colunas de sustentação, cá estou eu, mais forte e mais segura do que se podem imaginar. Talvez porque eu tenha enxergado, enfim, que minha base está além de uma figura que eu escolhi pra amar e pensar de vez em quando. Porque eu ainda penso, é claro, mas a cruel fase de abstinência já passou. Aquela coisa de acordar no meio da noite suando frio, de flagrar uma folha caindo de uma árvore e lembrar da criatura, de chorar até com música de comercial de cerveja. Passou. É claro que as lembranças ainda vão ficar por um bom tempo circulando por aqui, mas já consigo espantá-las com a ponta do lençol pra que elas não consigam me assustar mais. Estou de volta. E dessa vez quero ver quem vai me derrubar. É tudo verdade, mas às vezes bate aquela vontade de estar perto, de estar com você. Você não está aqui. Você não assistiu comigo à última estréia do cinema e nem me levou pra conhecer aquela pizzaria nova. Você nunca viu meus pais, sentou no meu sofá, conheceu minhas amigas. Você não teve tempo de abrir minha geladeira ou opinar na nova cor do meu cabelo. Você não me escreve cartas de amor, me dá ursos de pelúcia ou se despede com um beijo de boa noite antes de ir pra casa. Você nunca me perguntou se eu queria porque eu sempre atropelei as coisas e engoli o sim muito antes da pergunta sair. Eu estou aqui. Com uma música, um cheiro, um álbum de fotografias, um punhado de palavras soltas que pouco querem dizer e alguma poucas declarações ditas sem perceber. Eu estou aqui, com uma proposta para dividir o mesmo teto, um convite para largar a vida e viver um sonho e esse mesmo sonho se materializando no meu pensamento a cada segundo. Continuo aqui, sentada torta na minha cama, escrevendo de madrugada pra espantar o sono quando na verdade eu bem sei que mal consigo dormir nessas longas noites de inquietação. É difícil estar sozinha agora quando se quer tanta coisa. Difícil mandar a solidão sair pela janela enquanto tudo queima pedindo presença. Difícil abafar a falta com o travesseiro na boca enquanto a maldita sinceridade escorre dos olhos me tirando o controle das mãos. E eu, que deixei de ser eu naquele dia em que você me pegou pela mão e me chamou pra ser nós, me calo diante da certeza do que virá. Sei que pode ser pouco, sei que pode ser muito, sei que muito me fará rir e tão mais me fará chorar. Eu não preciso de uma data pra comemorar, um anel pra exibir ou um simples alguém pra me tirar das estatísticas das descompromissadas. Eu só preciso de presença, de um abraço que me faça esquecer da vida e de um beijo que me faça lembrar dela. Mas estou melhor do que estava, bem melhor. E esse abraço e esse beijo é muito fácil de conseguir, e vou tê-los, provavelmente hoje ainda.

4 comentários:

  1. Ai meu Deus, mas que lindo, que intenso, e muito muito muito dependente e até feliz. Eu adorei entrar aqui e ler isso, me deu força e confiança. Um beijo grande sua linda, se cuida e seja forte e feliz!

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  2. Lindo demais, perfeito. É tudo que precisamos ouvir, e acreditar, nossa, parabéns mesmo. Adorei o texto :D

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  3. lindo texto. adorei o blog! tou seguindo. :]

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